Da pichação às carrocerias de caminhão, Nevs busca suas referências e inspirações no DNA brasileiro
Pincel de letrista, movimentos delicados e cores vibrantes. Ver Thiago Nevs trabalhando é uma experiência de tensão e satisfação. Os dedos precisos do artista carregam referências que trouxe de sua criação, na cidade de Panorama no interior de São Paulo e da arte de rua transgressora da capital paulista. O artista encontrou na prática do letreiramento comercial a sua paixão por grafias populares. Sua identificação com a tipografia popular se intensificou através da pichação e do graffiti.
Em 2017, com o projeto Invólucro, sua primeira mostra individual, Thiago Nevs enfrentou o desafio de levar seu processo criativo das ruas da cidade para as quatro paredes de uma galeria. Os nove trabalhos envolviam esculturas, objetos, assemblages e instalações. Em 2021, a estética de caminhão marcou sua segunda mostra, Panorama. Sobre-Carga (2022), terceira exposição individual do paulistano, reforçou sua identidade inspirada na iconografia dos caminhoneiros do país.
A tipografia vernacular, estilo de design gráfico que se refere ao uso de fontes e de letras tradicionalmente associados a uma cultura ou região específica, é uma das marcas do trabalho de Thiago hoje. O artista conversou conosco sobre suas inspirações e impressões sobre o cenário artístico atual.
PlayGround: Como você começou a se interessar por tipografia vernacular?
Thiago Nevs: Acredito que a Tipografia sempre esteve inserida em minha vida, mas foi através da pichação, que foi despertado em mim uma certa curiosidade pela diversidade em que a escrita pode ser apresentada. Posteriormente, o trabalho como letrista me possibilitou uma vivencia mais profunda, podendo assim pesquisar mais sobre e, a partir da pesquisa, criar novas caligrafias.
PG: O estilo gráfico das carrocerias de caminhão do Brasil são característicos daqui ou outros países usam o mesmo estilo de ornamentos?
TN: Em vários lugares do mundo podemos encontrar elementos gráficos que adornam e enfeitam os caminhões, cada qual com sua particularidade que se fundem entre suas origens culturais e referencias coloniais. No Brasil existe uma mistura de diversas culturas e o resultado gráfico que vemos nos caminhões , é algo único. Alguns pontos como a simetria e o jogo de cores nos faz reconhecermos “primos” distantes espalhados na América do Sul, como o Fileteado Portenho na Argentina e as Chivas na Colombia.
PG: Qual o peso/influência da cultura latina no seu trabalho?
TN: Eu sou totalmente afetado pela cultura latina. Tudo me encanta, as cores, os elementos gráficos, o folclore, as manifestações populares. Naturalmente meu trabalho se desenvolve nutrido dessas referencias.
PG: Você coloca um holofote importante na cultura/saber popular ao transporta-la para um ambiente altamente elitizado que são as galerias de arte, que tipo de reflexão isso propõe? Existe alguma resistência por parte das galerias e da crítica em abraçar esse tipo de conteúdo?
TN: Eu acredito que a arte e as instituições vêm cada vez mais abrindo suas portas para as mais diversas manifestações artísticas, acredito que estamos vivendo um momento bem importante, e que tende cada vez mais a aumentar. A nossa história começa a ser reescrita por novos olhares, e quem se beneficia com isso é a própria cultura.
PG: Pra fechar, qual sua obra mais importante? (pode ser de um ponto de vista unicamente subjetivo)
TN: Eu gosto muito de um trabalho que apresentei em 2017, em uma exposição individual intitulada “INVÓLUCRO”, onde me aproprio de uma porta de trem que sobreponho a um monitor, onde é possível visualizar sua viagem. O trabalho me dividiu entre ser grafiteiro, e ser artista.
Veja mais sobre o trabalho de Thiago Nevs em seu perfil no Instagram.